data-filename="retriever" style="width: 100%;">A vida é maravilhosa! Mesmo com pandemias que nos deixam isolados em casa. Cá onde estou, vou aos meus livros, de repente, revisito os mais antigos e, agora - agora mesmo, de verdade - tenho entre as mãos o Europa de hoje, de Alceu Amoroso Lima, edição de 1951. Emoção, ao ler na página 126, um trecho a respeito do Café de Flore! O nosso Café de Flore, da Tania e meu, a propósito do qual não me canso de escrever. Em um livro meu - Paris, quartier Saint-Germain-des-Prés, publicado pela Editora Globo e também na França, traduzido pela Éditions Caractères, Le flâneur de Saint-Germain-des-Prés - páginas e páginas referindo a nossa mesa, nossos amigos e inúmeros momentos de alegria em face da Brasserie Lipp e do Armani!
O que o imenso ser humano Alceu Amoroso Lima - também conhecido como Tristão de Athayde - escreveu é encantador! Tanto, tanto que me permitam transcrever um pequeno trecho que acabo de reler:
"Saint-Germain-des-Prés, pouco adiante, em pleno centro do mais moderno Paris, a dois passos do Café de Flore".
Encantador, de verdade, relembrando Sartre e Diderot. Se eu pudesse vencer o Tempo nos reencontraríamos naquela mesa de sempre, lá no interior do nosso Café de Flore. Vou praticar uma ousadia - perdoem-me! - e buscar trechos do que escrevi nesse meu livro para transcrever no pequeno espaço deste artiguinho de agora. Depois, escreverei outros, reencontrando-o, lá no Céu desde agosto de 1983.
Paul Boubal, que comprara o Cafe de Flore em 1939, acolheu Sartre, amigavelmente, que já lá se fixara definitivamente - ele em uma mesa, Simone em outra - por volta de 1942, embora conste que ela algumas vezes aparecia, desde 1937 ou 38. Foi em 1942, contudo, que Boubal pensou em adquirir uma linha telefônica exclusiva para Jean Paul atender aos que ligavam para ele no número do café.
Fora de série, de verdade, colocou no salão um fogão que permanecia aceso durante os invernos para aquecer os clientes. Emprestava dinheiro aos garçons sem exigir nenhuma garantia, só na palavra, sem cobrar juros, nada. Era capaz, no entanto, de passar uma noite à procura de um cadáver de champanhe: se foram vendidas trinta e quatro garrafas, por que, ao final da noite, haviam sido encontrados somente trinta e três cadáveres? Sua vida era o café. Para dele não se afastar comprou um apartamento na esquina da rue de Rennes e da rue Gozlin, de cuja janela com um binóculo, fiscalizava sua caixa, seus garçons, seu terraço.
Entre essa janela e o café, comprometendo sua plena visão, havia uma árvore incômoda. Havia! Uma noite, alguém colocou veneno em sua raiz e ela definhou. Talvez, o único gesto de maldade imputável a ele tenha sido esse, o de assassinar vegetais...